O dia será especial para dezenas de milhões de pessoas espalhadas pelo
mundo. Pioneiro desde sua fundação, o Club de Regatas Vasco da Gama
completa nesta quinta-feira (21/08) 116 anos de vida. Para festejar a
importante data, o Site Oficial preparou um material que destaca os principais momentos da história cruz-maltina.
Fundação do clube e primeiras conquistas
No dia 21 de agosto de 1898, sessenta e dois rapazes, em sua maioria
portugueses, reuniram-se em uma sala da Sociedade Dramática Filhos de
Talma, no bairro da Saúde, decididos a criar uma associação dedicada à
prática do remo. Inspirados nas celebrações do quarto centenário da
descoberta do caminho marítimo para as Índias, os rapazes batizaram a
nova agremiação com o nome do heróico português que alcançara tal feito.
Nascia, assim, a grandiosa trajetória do Club de Regatas Vasco da Gama.
Filiado à União de Regatas, o Vasco estreou em competições oficiais no
dia 4 de junho de 1899, na enseada de Botafogo. Apresentando-se com
uniforme negro, com faixa diagonal branca e a cruz-de-malta no centro,
os remadores vascaínos conseguiram a primeira vitória do clube em uma
competição esportiva. Foi justamente no 1º páreo, na categoria júnior,
com a baleeira “Volúvel”, conduzida a seis remos. Em 1904, o Vasco
inaugurava sua trajetória de pioneirismo. Pela primeira vez na História
dos clubes esportivos do Brasil, um não-branco é eleito presidente. Após
as eleições, os vascaínos tiveram a honra, em uma época em que o
racismo era prática comum no esporte, de conduzir o mulato Cândido José
de Araújo ao degrau mais alto do clube. Candinho, como era
carinhosamente chamado, presidiu o Vasco, em seu primeiro mandato, de
agosto de 1904 a agosto de 1905. Reeleito, permaneceu no cargo até
agosto de 1906. Foi durante seu mandato que o clube conquistou o
primeiro campeonato de remo de sua história.
Na regata de 24 de setembro de 1905, quando foi inaugurado o Pavilhão
da Enseada de Botafogo, construído pela Prefeitura do então Distrito
Federal, o Vasco conquistou o seu primeiro campeonato de remo do Rio de
Janeiro. O Pavilhão era uma elegante estrutura de ferro, com
arquibancadas, tribuna de honra, buffet e dois coretos para bandas de
música. Foi um domingo de gala, que contou com a presença de Rodrigues
Alves, então presidente da República, e de altos oficiais da Armada
Portuguesa, principalmente os da “Canhoneira Pátria”. Diante de platéia
tão ilustre, as equipes do Vasco triunfaram em cinco páreos, incluindo
os dois mais importantes: o do Campeonato do Rio de Janeiro, com o yole a
oito remos “Procelária”, e o dedicado ao benemérito Prefeito Francisco
Pereira Passos. No ano seguinte, na regata de 26 de agosto de 1906, o
Vasco conquistaria o bicampeonato carioca de remo.
Criação do departamento de futebol
Após remadas de sucesso, o Vasco, por sua grandeza, sentiu necessidade
de cravar a bandeira cruzmaltina em outras modalidades esportivas. Por
conta desse desejo de expansão, surgiu, então, o interesse em formar um
time de futebol. No dia 26 de novembro de 1915, os vascaínos resolveram
se fundir ao Luzitânia SC, clube dedicado ao futebol e que, até então,
somente admitia portugueses em seus quadros. Após a fusão, o Vasco da
Gama filiou-se à Liga Metropolitana para participar da temporada de
1916. Ao dar os seus primeiros passos na Terceira Divisão, o Vasco
começava a construir a História de um dos clubes mais importantes do
futebol brasileiro. Porém, a estréia nos campos não foi das mais
animadoras, com derrota de 10 a 1 para Paladino FC, em 3 de maio de
1916. Adão Antônio Brandão foi o autor do nosso primeiro gol.
No dia 29 de outubro de 1916, o Vasco da Gama obteve a sua primeira
vitória no futebol. O Gigante da Colina ganhou o River por 2 a 1, no
campo do São Cristóvão, pela Terceira Divisão da Liga Metropolitana.
Candido Almeida e Alberto Costa Júnior foram os autores dos gols
vascaínos. Em 1922, o Vasco, já na Série B da primeira divisão da Liga
Metropolitana, sagrou-se campeão e conquistou o direito de disputar a
promoção à Série A numa partida extra contra o último colocado da Série
A, o São Cristóvão. O resultado de 0 a 0 garantiu ao Vasco a
participação na elite do futebol carioca no ano seguinte.
Os Camisas Negras
O lugar que o Vasco da Gama ocupa na elite do futebol brasileiro tem a
marca gloriosa do time conhecido como os camisas negras que, em 1923,
com uma campanha arrasadora (11 vitórias, dois empates e apenas uma
derrota), conquistou o primeiro titulo de campeão carioca de sua
História. Com o uniforme preto – ainda sem a faixa diagonal – de gola
branca e com uma cruz vermelha, semelhante à da Ordem de Cristo, no lado
esquerdo do peito, Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e
Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito foram os 11
vascaínos abusados, alguns deles negros e mulatos, que quebraram
definitivamente a hegemonia de América, Fluminense, Botafogo e Flamengo,
clubes nos quais atuavam somente jogadores brancos. Esses pioneiros
deixaram claro, com a conquista do Carioca daquele ano, que o Vasco
chegava não apenas para se transformar em um dos gigantes do esporte
nacional, mas, sobretudo, para romper preconceitos e ajudar o futebol a
ganhar dimensão nacional. Até a ascensão do Vasco havia, no Rio, uma
linha divisória que separava os grandes clubes da Zona Sul – Fluminense,
Botafogo e Flamengo – das pequenas agremiações que se espalhavam pelos
subúrbios da cidade. O máximo que os grandes permitiam à Zona Norte, até
aquele momento, era ter o América em seu convívio, como o representante
da elite tijucana. As grandes partidas se realizavam no ambiente
refinado, de maneirismos ingleses, estádio do Fluminense Football Club,
em Laranjeiras, diante de platéias que exibiam chapéus, bengalas e
vestidos longos.
Mas, no outro lado da cidade, nos campos suburbanos, o Vasco iniciava
sua arrancada. Em apenas seis anos os vascaínos deixaram os degraus
inferiores e chegaram à Primeira Divisão da Liga Metropolitana de
Desportos Terrestres (LMDT), prontos para disputar e ganhar o campeonato
de 1923. A explicação desse rápido sucesso estava nos negros, mulatos e
brancos, pobres e bons de bola, que o Vasco havia recrutado nos campos
de subúrbio, numa época em que o futebol era oficialmente amador. Para
mantê-los no time, comerciantes portugueses os registraram como
empregados em seus estabelecimentos. Era a maneira de burlar a exigência
do amadorismo, que estava com os dias contados. Registros comprovam que
o pagamento a jogadores já era prática corrente em 1915. Junto com as
vitórias sobre os pequenos e os representantes da elite (Fluminense,
Flamengo, Botafogo e América, vencidos em série) surgiu o apelido de
camisas negras, dado pela imprensa àquele time da Zona Norte, que ia
adquirindo fama de imbatível. A equipe tinha como técnico o uruguaio
Ramón Platero, que chegara ao Rio com a novidade da preparação física.
Na campanha irresistível dos camisas negras, o 8 de julho de 1923 viria a
se tornar uma data histórica. Nesse dia, o Vasco entrou no campo de
Laranjeiras para enfrentar o Flamengo, na terceira rodada do returno.
Derrotados anteriormente pelos vascaínos, Fluminense, Botafogo e América
uniram suas torcidas à flamenguista. Todos contra um, era a hora da
revanche. A partida foi disputadíssima. O Flamengo vencia por 3 a 2,
quando nos minutos finais o ponta-direita Paschoal marcou o que seria o
gol de empate. Mas o juiz Carlito Rocha, que mais tarde seria presidente
do Botafogo, anulou o gol, que para muitos foi legítimo. A derrota não
impediu que o Vasco levasse a taça de campeão, com vitória de 3 a 2
sobre o São Cristóvão, depois de estar perdendo por dois gols. Como era
de hábito no time comandado por Ramón Platero, a virada aconteceu no
segundo tempo. O medo de que os camisas negras repetissem a façanha no
ano seguinte levou os grandes clubes a abandonar a Liga Metropolitana,
em 1924. Fluminense, Botafogo e Flamengo, com apoio do Bangu e do São
Cristóvão, criaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
(AMEA). Os estatutos da entidade continham cláusulas absurdas, nas quais
ficava evidente a falsa nobreza do alegado espírito amador. O
impedimento à inscrição de jogadores sem profissão definida e
analfabetos tinha como alvo a vitoriosa equipe do Vasco, que reunia
negros e pobres. Assim como o veto ao ingresso na AMEA de clubes que não
tivessem estádios.
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